domingo, 10 de fevereiro de 2013

Pra que acentuar? - Parte 2

...Continando.

No tópico de antes eu não cheguei a falar muito sobre a utilidade do acento.
Ele pode ser usado para indicar com mais precisão a qualidade de som de uma letra, marcar a sílaba mais forte de uma palavra, diferenciar entre duas palavras curtas, indicar o tom da sílaba (em transcrições do escrito chinês para o alfabeto latino) e às vezes até para indicar a própria existência de uma vogal específica ou a falta de vogal em escritos onde as vogais são omitidas (por exemplo, árabe e hebreu).

E em português, como funciona?
O acento marca ao mesmo tempo a sílaba mais forte e a qualidade da vogal. Temos dois acentos principais que definem altura e acento silábico: o acento agudo (´), que indica a pronúncia mais aberta em E, A, O (representando em AFI, é = /ɛ/, á = /a/, ó = /ɔ/), e o acento circunflexo (^), famoso "chapeuzinho", indicando a pronúncia mais fechada em E, A, O (ê = /e/, â = /ə/, ô = /o/). Note que I e U só recebem acento agudo, pois não têm qualidade vocal alternativa. Assim, para marcar uma sílaba mais forte numa posição não habitual, é preciso também escolher o acento para indicar a pronúncia da vogal. Por isso é que no Brasil escrevemos prêmio e em Portugal se escreve prémio (se bem que no Rio está crescendo uma tendência de pronúncia igual à que já existe em Portugal).
Pode ser dito que, onde a sílaba forte já está numa posição normal, o acento marca apenas a qualidade da vogal. Isso era mais comum antes das últimas reformas ortográficas: êle, rêde, côro, pára, mas tem se tornado cada vez menos necessário, pois em várias palavras a altura (pronúncia com a boca mais aberta ou mais fechada) é variável. Veja: gosto (ô, nome), gosto (ó, verbo), tomate (ó, ô ou ú, dependendo do sotaque).

Saindo um pouco do oficial, além de eu já ter visto na internet comentários escritos sem nenhum acento, vi também pessoas usando o acento apenas para marcar qualidade de vogal, sendo que em alguns casos a sílaba mais forte deveria ser em outra que não está acentuada, causando confusão. Outro caso não incomum é o uso do 'h' pra acentuar (e às vezes junto com o acento pra distinguir a qualidade). Alguns exemplos: véla, quérida, éh, Júh, sózinho, e mais.

Ainda temos outros acentos. O til (~) é usado apenas sobre A e O pra marcar vogal nasal. Pra indicar sílaba forte, não é muito preciso. Repare: maçã, cãozinho, coração, órgão. Temos também o acento grave (`), conhecido popularmente como "crase" no Brasil porque só aparece quando a preposição A (que quer dizer "(direção) para", "lugar") se junta com o artigo feminino A (pode aparecer também, no português europeu, pra indicar a qualidade da vogal sem indicar sílaba forte, como em prègar). Por fim, o trema (¨), eliminado em Portugal antes do que aqui, servia pra mostrar que o U em QU e GU era pra ser pronunciado (rápido, como W em inglês), mas ainda pode aparecer em nomes próprios, principalmente de origem alemã, como em Schütz. Sem o trema, várias palavras vão se mantendo apenas enquanto a memória coletiva durar, pois na palavra linguiça, não está expresso se GUI é /guj/, /gwi/ ou /gi/.

Bem, já falei bastante. Se você conhece o uso dos acentos em outras línguas, como em italiano e francês, sinta-se livre pra comentar e mostrar algum ponto que chamou sua atenção. Até mais.

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