terça-feira, 29 de janeiro de 2013

xxxxx! Silêncio!

O título deste post mostra uma forma de escrever o som que fazemos pra alguém parar de fazer barulho. Forma, alías, nada comum, apesar de nós termos esse como um dos sons na letra X em português.

Na verdade, eu queria chamar a atenção para como o nosso idioma e outros representam esse som com letras.

Pra começar, esse som tem um símbolo próprio na Associação Fonética Internacional: ʃ (normalmente entre barras // ou entre colchetes []. Veja informações sobre esse fonema aqui). Esse símbolo é usado para indicar a pronúncia em vários dicionários pelo mundo todo, visto que é um som relativamente comum. Em muitas línguas, surgiu ao longo da história como uma modificação de algum outro som e, portanto, aparece com as mais variadas grafias. Em latim, ancestral do português, por exemplo, esse som não existe, sendo que a letra X era sempre usada para representar /ks/. Porém, na região ibérica, a letra X representou /ʃ/ historicamente (não sei bem qual a origem dessa tradição. Se alguém souber, pode colocar nos comentários). Em espanhol, agora X representa mais /(k)s/ e, onde representava o som mais gutural que veio depois do /ʃ/, foi quase totalmente substituído por J. Línguas indígenas da América ainda usam X semelhantemente em sua ortografia por influência dos colonizadores espanhóis e portugueses (algumas nem têm o som /ʃ/, como Xavante. Para mais informações, ver SAPhon).

Em português do Brasil, X representa quatro sons, como: /ʃ/ em mexe, /ks/ em fixo, /s/ em máximo e /z/ em exato. Além disso, a dupla CH também representa, até mais estavelmente, o som /ʃ/, exceto nas regiões de fronteira com países que falam espanhol, onde pode ser pronunciado /tʃ/ em algumas palavras de uso comum entre as duas línguas.
Na região norte de Portugal, existe uma fina diferenciação de som entre X, CH, C, Ç, Z, S, SS. O som /ʃ/ é mais estável apenas em X, mas ainda assim divide espaço com a pronúncia /ks/ e /z/.

Apesar de nós já estarmos bem acostumados com o "X de Xuxa", seu uso para representar /ʃ/ não é tão comum entre as línguas do mundo. Basta rolar a tabela no link do Wikipedia sobre esse som, em inglês, pra ver que outras letras são mais usadas. A seguir, veja quais as formas de grafia usadas por três línguas.

Italiano: Usa primariamente a combinação SC antes de E e I, mas SCI antes de A, O e U, por causa das duas pronúncias da letra C.

Inglês: Parece estável em SH, mas também surge em palavras com CH de origem francesa, em SI e TI + vogal, e também quando o som de S se funde com o som de Y, como em yes ou you (e esse mesmo som de "i rápido" esté em SI e TI).

Alemão: O som /ʃ/ (um pouquinho mais "escuro" que o nosso) recebe uma grafia estável, só que com três letras: SCH. Contudo, a letra S no início e antes de consoante também pode representar esse som. O curioso é que existe a escrita CH que tem um som característico, mas a letra C sozinha praticamente não é usada, e quando é, tem a pronúncia /ts/, igual à letra Z. Schnell poderia ser facilmente escrito cnell, mas, não sou eu quem vai decidir isso pra eles...

Lojban: Caracterizada pela lógica e pelo mínimo de ambiguidade, essa língua construída captou o potencial da letra C e a usou convenientemente para representar /ʃ/, fazendo par com J (mesmo som do nosso, como em janela, representado em AFI por /ʒ/).

Espero ter ajudado a refletir um pouco mais sobre as formas de representar um som na escrita, nos idiomas diferentes, com pensamentos diferentes. Tcau!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O que é que a baiana tem?

Fiquei pensando em trazer algo que lembrasse esse clima de férias, praia, turistas... e acabei chegando neste vídeo da antiga e ilustre Carmen Miranda. Apesar de nascida na terrinha, ela botou a alegria do povo brasileiro no mapa cultural dos países mais poderosos da época, em especial dos Estados Unidos. Conheça mais da vida dessa cantora e também atriz no belo site www.carmenmiranda.com.br.



O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem! Tem brinco de ouro, tem! 
Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem! 
Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem! 
Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! 
Tem graça como ninguém!
...

Na primeira parte, a cantora vai falando das coisas que a baiana tem. Em geral são partes da roupa que ela tá usando, objetos... mas por último ela cita uma característica da personalidade, do jeito.
No Brasil, temos algumas construções de frase peculiares que priorizam um substantivo, às vezes com verbo ou preposição de apoio, em vez de um adjetivo ou verbo, e também um subtantivo ou adjetivo no lugar de um advérbio. Isso evita a derivação de palavras mais simples em versões complicadas e arcaicas.
Na frase "Tem graça...", uma construção parecida poderia ser "É graciosa...", mas na segunda é preciso usar uma forma derivada, que muitas vezes mantém características mais próximas do latim que da linguagem que usamos normalmente, além, é claro, de quebrar a sequência da letra com os muitos "tens".

Os exemplos abaixo mostram a diferença de construção, comparando com o idioma do país em que Carmen teve mais sucesso (e mostrando uma versão em português "ao pé da letra"):

Tem medo de barata?
Are you afraid of roachs? (É você assustado de baratas?)

Mãe, tô com fome!
Mom, I'm hungry! (Mãe, eu tô faminto!)

Na verdade/real, eu não vou lá amanhã.
Actually, I'm not going there tomorrow. (Atualmente, eu não tô indo lá amanhã)

Deu um salto, o preço do arroz.
The price of rice has jumped. (O preço do arroz tem pulado)

Ela saiu do trabalho bem depressa/devagar. (< Por que junto ?????)
She left work very quickly/slowly. (Ela deixou trabalho muito rapidamente/lentamente)

É interessante notar que as preposições dão informação parecida com os "casos" de outras línguas, como latim, russo e alemão. Ou seja, nossa língua também tem um sistema de casos, não colados no final da palavra, mas às vezes colados no início de outras palavras de função, como artigos e pronomes (talvez isso dê um alívio nas pessoas que estão aprendendo alguma dessas línguas). No "caso" do Brasil, esse raciocínio é usado para substituir palavras mais arcaicas ou muito grandes, sem perder necessariamente a riqueza de significado. 

Manual - De mão
Pedal - De pé
Dominical - De domingo
Estival - De verão
Pluvial - De chuva
Celeste - Do céu
Respeitosamente - Com respeito
Desrespeitosamente - Sem respeito
Horizontalmente - De lado, deitado...
Verticalmente - Em pé, pra cima...
Certamente - Com certeza
Pacificamente - Em paz
Fielmente - Com fé; igual
bondoso, honesto - De bem
Tranquilamente, facilmente - De boa
Brigado, ressentido - De mal
Depressivo, triste - Na fossa (ou deprê)
Gracioso, engraçado - Com graça
Entediante - Sem graça

Bem, se você conhece outras expressões como estas, pode deixar nos comentários.
Tô de saída!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

É tão difícil escrever como se fala...

Oi pessoal,
 
Muitas pessoas reclamam quando vão aprender uma nova língua, dizendo que a pronúncia é muito diferente da escrita. Isso acontece principalmente com a língua inglesa, onde, por exemplo, a letra u pode representar um monte de vogais diferentes e ch pode ser nosso tch/ti, ch ou k.
O idioma mais usado no mundo atualmente mantém sua escrita baseada na tradição, ou seja, num ponto da história onde a escrita se estabilizou (se bem que para cada palavra esse ponto pode ser diferente. Assim, a escrita "etimológica" pode ser considerada arbitrária também). O problema é que a pronúncia mudou bastante até hoje e continua mudando pra direções diferentes em cada região do mundo onde o idioma é usado. Nesse sentido, as palavras em inglês prescrevem significado muito mais do que pronúncia. Pra ter sucesso na fala, é preciso então confiar na leitura da palavra inteira e na ordem da frase, além de ter um certo conhecimento de outras línguas, como o francês, para as pronúncias mais imprevisíveis. Escrever segundo a origem ou o som atual é uma escolha que cada povo faz, com suas vantagens e desvantagens.
 
Aqui no Brasil, posso dizer que a gente se inclina mais pra escrita baseada na fala, e, cada vez mais entre os mais jovens, na MINHA fala. Eles querem se expressar, comentar, compartilhar, curtir, mas não param pra perceber se o outro entende o que estão dizendo.
Já li comentários na internet sem nenhum acento e pontuação, nem pra diferenciar é de e ou uma pergunta de uma resposta. Em outros casos, o acento deixa de ser usado pra indicar a sílaba mais forte e indica só o tipo de vogal (Ex.: téla, sózinho). Mais extremo, já vi frases viradas num palavrão, literalmente: táquipariu.
Eu penso que se você quiser viver em sociedade, tem que entrar num acordo de comunicação. Não dá pra querer dizer tudo o que quer, como quer, na hora e ordem que quer, com a letra que quer... Tem que se adaptar à situação, ter um limite entre o que facilita a escrita (mas fica muito próprio) e o que é tradicional só por ser.
 
Proponho aqui uma experiência: veja a frase a seguir:
 
Se eu gosto das casas, das ruas, mas não das árvores, o gosto é meu.
 
Quem escreve em português, tanto em Portugal, Angola e nas regiões do Brasil, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Manaus, vai entender o que está escrito aqui. Só que a pronúncia do S nessa frase é bem variada dependendo do sotaque:
 
Se eu fosse escrever, falando rápido como um carioca, ficaria assim (desculpe cariocas, essa é a minha percepção como catarinense vendo Salve Jorge): Si eu góh dax cázah, dáih húah, máih náũ daz áhvuriix, u gôixt'é méo. [falar X como CH brasileiro e H como CH alemão]
 
Já no oeste catarinense, poderia ser desse jeito: Se eu gósto das cázaz, daz rúaz, má nãu daz árvores, o gôstu'é meu. [O e E finais são ô e ê fracos, o R é como na Itália].

Em Minas, seria mais ou menos assim: S'ô gós dás caz, daz hua, ma nũ dáz arv, u gôst'é meu, uai. [S como SS e Z como Z puro]

A gente não pensa nos detalhes de pronúncia da letra S quando fala, mas na verdade a realização dela é bem complexa. Você viu que na versão carioca a palavra 'das' aparece como 'dax', 'da(i)h' e 'daz'? Mas as três não significam a mesma coisa? E no caso de 'gosto'? Aparece em Minas o 'gós' e o 'gôs(t)', mas os dois têm mesmo sentido.
Pois bem, parece mais fácil escrever como se fala, mas no final a gente precisa aprender um monte de regras pra mudar a pronúncia de acordo com outros sons que estão perto e também aprender várias palavras que no fundo querem dizer a mesma coisa... E ainda assim pode passar uns trinta anos e tudo mudar de novo!

No final das contas, o que é mais vantajoso? A escrita prescritiva (menos precisa em pronúncia, porém mais funcional) ou a escrita fonética (mais precisa em som, porém mais separatista, com mais vocabulário redundante). Pra mim, é mais vantajoso se for mais eficiente, ou seja, em pontos onde há muita variação sem perder a essência, deve ser mais prescritiva (Ex.: O plural com -s, pelo menos em palavras de função); em outros, atualizações fonéticas seriam mais proveitosas (Ex.: falando de uma língua "brasileira", é bem geral que as pessoas não pronunciam os R finais de verbos. Uma língua escrita língua brasileira teria mesmo que cortá-lo).

É isso por hoje. Quer fazer sua versão sobre a frase acima? Não deixa de compartilhar nos comentários, dizendo de que região é. Tchau!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A cara do texto

Não sei se você já fez isso, mas algumas vezes eu me deparei olhando aqueles manuais de produtos cheio de textos em idiomas desconhecidos. Ficava reparando no visual geral de cada texto (já que não conseguia entender nada que estava escrito). É interessante notar que cada idioma tem uma quantidade de letras que aparece mais que as outras, combinações estranhas, acentos e algumas letras diferentes no meio... E até línguas que nem usam o alfabeto como o nosso, mas outras "bolas, pingos e riscos", de lado, de cima pra baixo...

Primeiro, gostaria de mostrar alguns trechos escritos em idiomas diferentes, usando só o alfabeto latino (com alguns símbolos a mais), pra ver qual é a aparência do texto. O trecho (Artigo 1º da Declaração Universal de Direitos Humanos) foi retirado da enciclopédia online Omniglot, muito legal de consultar:

Português:
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Espanhol:
Todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos y, dotados como están de razón y conciencia, deben comportarse fraternalmente los unos con los otros.

Italiano:
Tutti gli esseri umani nascono liberi ed eguali in dignità e diritti. Essi sono dotati di ragione e di coscienza e devono agire gli uni verso gli altri in spirito di fratellanza.

Romeno:
Toate ființele umane se nasc libere și egale în demnitate și în drepturi. Ele sunt înzestrate cu rațiune și conștiință și trebuie să se comporte unele față de altele în spiritul fraternității.

Francês:
Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité.

Inglês:
All human beings are born free and equal in dignity and rights. They are endowed with reason and conscience and should act towards one another in a spirit of brotherhood.

Alemão:
Alle Menschen sind frei und gleich an Würde und Rechten geboren. Sie sind mit Vernunft und Gewissen begabt und sollen einander im Geist der Brüderlichkeit begegnen.

Dinamarquês:
Alle mennesker er født frie og lige i værdighed og rettigheder. De er udstyret med fornuft og samvittighed, og de bør handle mod hverandre i en broderskabets ånd.

Turco:
Bütün insanlar hür, haysiyet ve haklar bakımından eşit doğarlar. Akıl ve vicdana sahiptirler ve birbirlerine karşı kardeşlik zihniyeti ile hareket etmelidirler.

Como dá pra notar, as combinações de letras e os símbolos diferentes dão uma identidade própria pra cada idioma. Esses exemplos que coloquei em cima são de idiomas bem conhecidos e tradicionais no mundo. Outros idiomas menos influentes acabam recebendo uma ortografia subordinada a algum padrão externo, como o português e espanhol sobre as línguas indígenas da América, e outros tantos influenciados pela ortografia inglesa e mais recentemente pelas indicações da AFI (Associação Fonética Internacional, IPA em inglês). Não quer dizer que as línguas menos influentes não tenham sons únicos ou característicos, mas suas meras trancrições fonéticas para nosso alfabeto parecem não ajudar muito para um visual próprio ou mesmo para a escrita eficiente, adaptada às necessidades daquele idioma específico.

Tá, mas o que dizer de idiomas que não usam o alfabeto latino? Não vou escrever nada a respeito simplesmente porque achei um artigo fantástico sobre a forma de escrever de vários povos. Apesar de ser em inglês, você bem pode ir rolando a página e se deslumbrar com tanta criatividade e beleza.


Espero que tenham gostado.
Qual que você gostou mais? Tem algo pra acrescentar ou corrigir? Fica à vontade pra comentar e compartilhar.
Bom find!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Opinião pessoal sobre o acordo ortográfico

Oi, o texto tá um pouco grande, mas leia, por favor.

Nos últimos dias de 2012 eu estava vendo o Jornal Nacional e passou a notícia de que o acordo ortográfico foi estendido (por mais 3 anos, se não me engano). Dei graças à Deus.
O problema do acordo ortográfico não está nas regras novas, mas na tentativa de manter unida a escrita do português entre todos os países denominados "lusófonos", principalmente o português do Brasil (PT-Br) e o português europeu (PT).

Se você comparar dois textos não informais, um em PT-Br e outro em PT, vai ver que a diferença nem é muita. Isso acontece porque a ortografia de muitas palavras foi mantida nos pontos onde faz diferença em uma das duas variedades, como em exceto, onde o brasileiro fala eSeto e o português eCH-Seto. Ao mesmo tempo, algumas especifidades foram eliminadas, como a diferença em PT-Br entre o nome Leia e o verbo leia, ou as indicações de pronúncias das consoantes "mudas" sobre a vogal anterior em PT, como em inje(c)ção, onde a vogal muda indicava regularmente a pronúncia mais aberta de E. Acho que os portugueses saíram perdendo mais com esse acordo do que nós.

O alvo do acordo ortográfico (providenciar conteúdo único internacionalmente) não tem tido muito êxito, considerando que muitos manuais de produtos, sites de internet e outros continuam distinguindo PT e PT-Br. Por que isso então? Porque uma língua não é só feita de ortografia. Tem maneiras próprias de formação de palavras, gramática, vocabulário, ordem da frase, empréstimo de outras línguas e, comparando PT e PT-Br, até falsos cognatos (PT cueca - PT-Br calcinha; PT idêntico - PT-Br similar).
Frases como "O meus dois sapato caiu, a sola" pode parecer muito louca para um português ou para um brasileiro que aprendeu na escola que em português as palavras tem que estar na ordem correta (ou seja, "A(s) sola(s) dos meus dois sapatos (ou par de?) caiu(íram)").

Por fim, penso que a língua portuguesa é dos portugueses. Eles não deveriam ter perdido as consoantes mudas se elas fazem falta na pronúncia geral da palavra. Eles devem continuar com os SC, XC (que os brasileiros acham tão sem sentido) porque faz diferença na pronúncia pra eles. Mas e nós, temos que abandonar a língua portuguesa? Não exatamente. O que devemos é criar uma língua escrita para representar essa variedade derivada do português que nós temos aqui no Brasil (não sendo mais chamada de portuguesa). Serão duas línguas com seus plenos direitos. Uma não vai ficar tratando mal a outra com acordos onde não se pode realmente tocar em muita coisa. Vamos seguir nosso caminho e deixar a língua deles se desenvolver também (e já está, a passos largos). Não vamos perder o carinho que temos por Portugal por causa disso.

Nossa língua é diferente o suficiente? Se não, como podemos ser mais diferentes, ter identidade própria? Mudar a ortografia, instalar inovações gramaticais, importar vocabulário simples das línguas indígenas brasileiras, especialmente o tupi, já tornaria nossa língua única rapidamente. É coisa para se pensar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Conlang

Você sabe o que é uma conlang?

O termo vem do inglês CONstructed LANGuage, que em português significa 'língua construída'. Fiquei impressionado ao saber que muitas pessoas estão envolvidas na criação de línguas artificiais para os mais diversos fins, como para usar em jogos e filmes, testar teorias linguísticas, unir grupos de nacionalidades diferentes, entre outros.
Provavelmente você já ouviu falar na língua Esperanto, certo? Então, essa é uma língua construída com caráter internacional, ou seja, não exaltando uma nação específica. Em filmes, Na'vi (no filme Avatar) e Klingon (em Jornada nas Estrelas) são exemplos de línguas construídas. Essas últimas são conhecidas também como línguas artísticas e já têm até curso pela internet.

Algumas línguas construídas são baseadas em lógica, praticamente sem irregularidades (a mais conhecida aqui seria o Lojban). Outras já são mais parecidas e até derivadas de línguas naturais, sendo denominadas línguas naturalísticas (o hebreu moderno poderia ser considerado uma delas). Você mesmo pode criar sua própria língua aplicando algumas regras de mudança sobre a língua que já conhece. Vamos tentar?

Português do Brasil escrito:
Eu não vou botar meus pés neste negócio.

1 - (Sem vogais seguidas e quase sem consoantes seguidas):
Ô num vo botá mos pé nesse negoço.

2 - (Alterando consoantes):
Eu dâo fou pozar beus vés denze decônio.

3 - (Alterando ordem da frase):
Botarei não a este negócio os pés d'eu.

Você também pode postar sua versão nos comentários. Até mais!

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Recurso:

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Bora postá

Semana nova começando...
Tenho percebido na TV que a expressão 'bora' está ficando cada vez mais comum, substituindo nosso conhecido 'vamos' quando convidamos alguém para fazer alguma coisa.
Por 'vamos' ser ou ter sido uma palavra muito usada na fala, tende mesmo a se reduzir, assim como aconteceu com 'você', que era 'vossa mercê', depois 'vosmecê', 'você' e já caminha pr'ocê e cê. Sobre 'vamos', vejo duas linhas de redução: numa, ele se juntou com a palavra 'embora' (que era "em boa hora") e se reduziu tanto que acabou sumindo.

Ex.: Vamos em boa hora > vamo embora dançar > humbora dançá > bora dançá.

Noutra linha de redução, ele ainda permance pois não se juntou com 'embora'. Nesse caso, se reduziu a 'vamo' e hoje é falado mais ou menos como "vâmm". Posso dizer aqui no sul que a gente usa mais a segunda opção do que a primeira. Mas, pela influência da mídia nacional, pode ser que daqui um tempo todos acolham a expressão 'bora'.
E, por trás dessas mudanças, estaria algum desejo de se afastar dos verbos conjugados? De todas as formas de "nós", a forma que parecia ser mais resistente pra mim era o "vamos", mas agora já não sei mais.

sábado, 12 de janeiro de 2013

O conto do vicário


Meu primo me indicou esse jogo que roda direto no navegador da internet. Drakensang é um daqueles jogos que você vai subindo de nível ("upando", como se diz na internet), lutando contra centenas de monstros míticos e esqueletos e completando missões nas vilas medievais a troco de ouro e equipamentos melhorados. Mesmo sendo online, tem gráfico e jogabilidade admiráveis, com uma tradução para português do Brasil bem mais decente que muitos jogos por aí.

Aprendi várias palavras, como 'espaldar, acólito, sinete' e também 'aturdir'. Uma, entretanto, me chamou a atenção: vicário. Em português, essa palavra aparece, mas como adjetivo. O substantivo é vigário. Engraçado, só muda uma letra... Pois é, outro exemplo interessante é a relação 'segredo - secreto'. Note que as versões de adjetivo têm a pronúncia mais "trancada, dura".
A volta do vicário pode ter explicação na influência do inglês sobre as outras línguas atualmente. Mesmo não sendo derivada do latim, a língua da rainha também sofreu historicamente muita influência em seu vocabulário formal. Agora, o vicar vai entrando de novo no português como vicário em vez de vigário.
Vou deixar duas perguntas no ar:
1ª - Em que mais o inglês pode estar influenciando nosso idioma?
2ª - Por que nós temos versões mais simples em palavras curtas e versões mais complicadas nos seus derivados (como o substantivo 'domingo' e o adjetivo 'dominical' em vez de 'domingal')? E, falando em domingo, desejo que você tenha um ótimo!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Por que PRAÇA é certo e PRACA é errado?

Desculpa decepcionar, mas não posso dar uma resposta exata à pergunta do título. O que eu posso é fazer você refletir um pouco.
Ao escrever PRACA...

Você quis dizer PRAÇA?
Esse tipo de escrita "das 26 letras e nada mais" é comum nas etiquetas de produtos de supermercado e lojas (quantas vezes comprei "pao linhaca" no mercado...). Não há preocupação com a pronúncia, mas com a relação visual que se faz com a palavra certa (se tivesse, os comerciantes teriam adaptado para LINHASSA, por exemplo). Ou seja, nessa linha de raciocínio, LINHASSA seria um erro grotesco, mas LINHACA "passa".

Ou quis dizer PLACA?
Provavelmente a mudança é por causa de uma tendência em misturar os sons de L e R brando (aquele de "arara". A partir daqui vou escrever 1R). De fato, a maioria das línguas indígenas no Brasil não têm som de L, pelo menos percebido diferentemente de 1R. Além disso, várias línguas africanas também não têm distinção entre L e 1R, só que com preferência por L (notavelmente o Kimbundu, da Angola, de onde vieram muitos escravos para o Brasil). Aí pode estar uma fonte de influência por trás dessas mudanças entre R e L, tão populares.

Tem mais?
Veja só essa curiosidade: a palavra PRAÇA pode ter sido considerada errada durante muito tempo na história da língua portuguesa. Sua origem vem do latim PLATEA, que também originou palavras parecidas em outras línguas: inglês PLACE (via francês), italiano PIAZZA, espanhol PLAZA, alemão PLATZ, holandês PLAATS, catalão PLASSA. Você deve ter notado que na maioria dos casos, o L se manteve, mas em português, mudou para R. Quem estaria "errado" então?

Essas tendências, esses "erros", é que fizeram línguas como francês, espanhol e português serem diferentes hoje. Alguns desvios foram e ainda são amenizados pelas lígnuas oficiais, mas muitos outros já foram abraçados bem antes de nós nascermos.

Pra terminar, deixo uma frase para reflexão: Quanto mais dialetos (quero dizer aqui variedades, sotaques) usam a mesma língua escrita, mais prescritiva (e não específica) ela deve ser.
Você concorda? Até que ponto? Deixe sua opinião aqui no blog.


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Recurso (pode requerer AFI, ver na página Recurso):

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O canto impressionando da Sereia

Ontem eu assisti o primeiro de quatro capítulos de O Canto da Sereia. Muito bela a fotografia, a atuação do elenco, com uma história interessante, misturante a cultura baiana e trama policial...
Peraí, misturante? Antes de continuar, assista a cena que está bem no início do minuto 18 (não consegui colocar pra rodar direto de lá. Se alguém souber, por favor me ajude):
"... eu tô impressionante com você, meu amor." Aqui parece que o ator usa 'impressionante' como verbo no lugar de 'impressionado'. Apesar de nós costumarmos pensar o primeiro como um adjetivo, ele tem o mesmo sentido ativo de 'impressionando', ao contrário do passivo 'impressionado'. Outras línguas têm construções diferentes usando a mesma forma verbal.
Inglês
O final -ing dá um sentido de processo, estado contínuo ou ativo. Como inglês se baseia muito na ordem da frase para dar sentido às palavras, uma palavra com esse mesmo final pode ser usado como substantivo, adjetivo, verbo e até advérbio:
- There's a mermaid singing... (Tem uma sereia cantando)
- There's a singing mermaid... (Tem uma sereia "cantante, cantadora")
- Her beautiful singing. (O belo canto dela (processo de cantar, "cantamento, cantada"))
- She loves writing/to write in her diary. (Ela ama escrever no diário)
- It's burning hot today! [construção especial] (Tá queimando de quente hoje!)
O final presente/ativo -ing se diferencia do passado/passivo -ed.
Sueco
Apesar de também ser uma língua germânica, como o inglês, o idioma sueco tem construções diferentes:
- Sjöjungfrun sjunger. (A sereia canta / A sereia está cantando)
- Hon var imponerande! (Ela era/estava impressionante)
- Sereia imponerad publiken. (Sereia impressionava/impressionou o público)
- Jag är imponerad av dig. (Estou impressionado com você)
- Den skytten dödade Sereia. (O atirador matou Sereia)
- Sereia dödades av skytten. (Sereia foi morta pelo atirador)
O que eu mais queria chamar a atenção é que na frase que escrevi no começo deste post, 'misturante' não soa tão fácil de entender, mas uma frase como "ela entrou tão confianda no palco" parece pra mim uma relação natural. Seria uma economia, não é mesmo?

No português escrito, já podemos usar o particípio (verbo com final -ado,-ido) tanto na posição de verbo como na posição de adjetivo ou substantivo:
- O recado de Sereia foi ouvido pelo governador.
- Sereia era uma cantora muito amada.
- O diário de Sereia seria um grande achado para a polícia.
Mas quanto ao gerúndio, existe um final para adjetivos -nte destacado do final -ndo dos verbos. Encontrei uma frase que já é aceita na norma culta: 'Foi um dia horrendo para os foliões'.
Se você conhece outras misturas parecidas com essa em outras línguas, eu apreciaria se você compartilhasse nos comentários. Por favor, pode me corrigir se eu tiver enganado em alguma coisa também.
Té!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Experiência da busca por Karta Sosial

Bon bini!


Vamos papear?




Eu experimentei colocar a palavra "karta sosial" no Google pra ver se eu achava o meu blog. De primeira apareceu lá em cima: "você quis dizer: carta social". Tudo bem, cliquei pra ele mostrar mesmo "karta sosial" e acabou aparecendo algumas coisas numas línguas que não conheço, mas tinha uma que eu reconheci algumas palavras. Era um arquivo PDF dizendo: Karta de prinsipio de pueblo soberano - GeenStijl. (http://mirror.geenstijl.nl/20070516-socamedia/soberano.socamedia.com/PSKARTA.pdf). No subtítulo tinha um nome que parecia de um país (Kòrsou). Colei no Google e apareceu um link do Wikipedia escrito na mesma língua do PDF (http://pap.wikipedia.org/wiki/K%C3%B2rsou). No site aparece a indicação que a língua se chama 'papiamentu'. Mais uma vez, coloquei no Google, que me levou a outro site da Wikipedia. Trata-se de um idioma falado nas ilhas de Aruba, Curaçao (daí o nome Kòrsou) e Bonaire com estado de língua oficial.


Imagem recortada do Google Maps: à direita uma imagem aproximada relativa ao quadradinho da esquerda


(Aquela ilha à direita de Curaçao é Bonaire). Parece ser uma grande mistura de português, línguas africanas e holandês, com crescente influência do espanhol venezuelano e também do inglês. O nome da língua vem do verbo papiá (papear. O início e fim deste post também estão escritos em papiamentu). 

Consta que o número de falantes é de pouco mais de trezentos mil. O que achei interessante é que essas três regiões, tão pequenas em território se comparadas com a maioria dos países, optaram por promover uma língua que ao mesmo tempo conta a história do seu povo e gera identidade. Eles não precisaram construir uma língua do zero, porém não tiveram receio em adaptar as línguas originais e fazer a sua própria.


Tá certo que pode haver menos diferença entre o português que escrevemos aqui no Brasil e o europeu que o papiamento e as línguas originais, mas a nossa língua pode ser tão diferente quanto nós desejarmos que ela seja. Nós desejamos?



Te aworo!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Link para dicionário em inglês

Estou fazendo um teste para ver se consigo agrupar postagens por conteúdo.

Aqui posto o link do Oxford Advanced Learner's Dictionary: um dicionário de inglês com explicação em inglês de cada palavra, expressões conhecidas e também combinações de palavras, como os famosos verbos frasais. Eu gosto bastante de usar por que ele funciona rápido, tem uma tela limpa e fácil de navegar.

Se funcionar, vou deixar o link aqui.

Primeiro post

Olá a todos!

Esta é a primeira vez que escrevo num blog. Não sei se vou conseguir mantê-lo, mas de uns tempos pra cá tenho visto que esse é um bom meio para a compartilhar ideias e também ter um retorno dos que, assim como eu, estão na frente de outras telas.


Ainda não conheço os recursos deste blog. Se eu puder organizar o conteúdo em páginas separadas, pretendo adicionar conteúdos do meu interesse, como música, linguística, astronomia, Brasil, e mais. Espero que quem passe no blog se sinta à vontade pra comentar, frazer críticas e compartilhar informações.


O nome do site tem a ver com o endereço de e-mail que criei faz um tempo. Mas aqui escrevi com uma ortografia diferente do que a norma da língua portuguesa manda para criar um ponto de discussão sobre a língua falada e escrita no país em que vivo.


Eu escrevo daqui do sul de Santa Catarina, Brasil.

Desejo uma boa semana para todos. Até mais!