Boa tarde,
Eu quase tinha esquecido. O prazo da enquete que coloquei no blog já acabou, e agora é a hora de comentar o resultado. Eu sei que meu blog é novo e ainda não é muito visitado, mas já agradeço aos que se dispuseram a clicar no botãozinho e deixar a opinião.
Eu quase tinha esquecido. O prazo da enquete que coloquei no blog já acabou, e agora é a hora de comentar o resultado. Eu sei que meu blog é novo e ainda não é muito visitado, mas já agradeço aos que se dispuseram a clicar no botãozinho e deixar a opinião.
Todo mundo fez a lição de casa e não clicou em "escrevo abobra", talvez por medo de levar uma reguada na mão do professor de português. Achei até bem conservadoras as respostas, mas tudo bem: abóbora é a forma mais aceita na escrita portuguesa hoje em dia. No diminutivo, é aceito escrever e dizer abobrinha, sem o "o" do meio (processo fonológico que se chama "síncope", como acontece também em chácara - chacrinha). Mas você sabia que a própria forma abobra é também indicada em dicionários? Basta olhar em Michaelis, Dicio.com.br (mesma referência), Lexico.pt, iDicionário Aulete, Babylon.
Aparece nos dois primeiros uma referência do escritor Amadeu de Queirós (ou Queiroz?): "Vamos empaiolar milho e abobra".
O que eu queria trazer pra você é que na situação atual do português, algumas reduções, como a da palavra da enquete, não são muito aceitas na escrita e mesmo na fala mais cuidadosa. Porém, muitas outras palavras que temos hoje como "oficiais" são resultado desse mesmo processo de síncope da vogal do meio. Pense em letra: o adjetivo correspondente é literal. O que aconteceu? Por que elas são um pouco diferentes? Bem, no latim, língua ancestral do português, o substantivo era LITERA (lítera), mas ao longo da história, perdeu o E do meio e depois o I baixou pra E.
Aparece nos dois primeiros uma referência do escritor Amadeu de Queirós (ou Queiroz?): "Vamos empaiolar milho e abobra".
O que eu queria trazer pra você é que na situação atual do português, algumas reduções, como a da palavra da enquete, não são muito aceitas na escrita e mesmo na fala mais cuidadosa. Porém, muitas outras palavras que temos hoje como "oficiais" são resultado desse mesmo processo de síncope da vogal do meio. Pense em letra: o adjetivo correspondente é literal. O que aconteceu? Por que elas são um pouco diferentes? Bem, no latim, língua ancestral do português, o substantivo era LITERA (lítera), mas ao longo da história, perdeu o E do meio e depois o I baixou pra E.
Hoje você não sente nenhuma vergonha de falar a palavra "letra", mas quanto a "abobra", shhh, os outros podem pensar que sou jeca ou ignorante.
Então somos todos jecas e ignorantes!, se olharmos pelo ponto de vista da língua formal latina. Daí você pode pensar: quanto mais reduzida a palavra, mais jeca. A língua francesa não seria, portanto, "très chic", mas a mais jeca das línguas românicas. Linguistas, ao contrário, usam o termo "inovadora" para a língua que sofre mais modificações em relação à língua ancestral (no caso do francês, também é o latim). Vamos ver o seguinte exemplo:
Latim: VITA CAPSULA ADMIRATIONIS PLENA EST.
Português: A vida é uma caixinha cheia de surpresas.
Francês: La vie est une petite boîte pleine de surprises.
Pensando bem, o francês tem algumas palavras mais próximas do latim. Mas não se iluda: na fala, as mudanças são bem mais avançadas. Isso é porque a língua francesa adota um sistema de escrita mais baseado na etimologia das palavras do que na pronúncia, além de outros traços próprios da língua, como a pronúncia da consoante final só se for seguida de vogal.
De um lado, compare LT VITA, PT vida, FR vie. Agora, compare LT PLENA, FR pleine, PT cheia. Se pode dizer que em VITA, o francês é mais inovador, mas em PLENA, o português é mais.
Ok, a gente só se dá conta do que é especial na nossa língua quando começamos a olhar de fora, através da comparação com outros idiomas parecidos, e mais ainda com idiomas bem diferentes.
A partir dessa lógica, vou iniciar a série de posts "O patinho belo", que vai mostrar o quão "feia" uma palavra pode ser se botada ao lado das palavras relacionadas em línguas próximas, como francês, italiano, espanhol, e outras... pra que possamos confrontar um pouco essa ideia da palavra errada.
Té mais em tão.
Então somos todos jecas e ignorantes!, se olharmos pelo ponto de vista da língua formal latina. Daí você pode pensar: quanto mais reduzida a palavra, mais jeca. A língua francesa não seria, portanto, "très chic", mas a mais jeca das línguas românicas. Linguistas, ao contrário, usam o termo "inovadora" para a língua que sofre mais modificações em relação à língua ancestral (no caso do francês, também é o latim). Vamos ver o seguinte exemplo:
Latim: VITA CAPSULA ADMIRATIONIS PLENA EST.
Português: A vida é uma caixinha cheia de surpresas.
Francês: La vie est une petite boîte pleine de surprises.
Pensando bem, o francês tem algumas palavras mais próximas do latim. Mas não se iluda: na fala, as mudanças são bem mais avançadas. Isso é porque a língua francesa adota um sistema de escrita mais baseado na etimologia das palavras do que na pronúncia, além de outros traços próprios da língua, como a pronúncia da consoante final só se for seguida de vogal.
De um lado, compare LT VITA, PT vida, FR vie. Agora, compare LT PLENA, FR pleine, PT cheia. Se pode dizer que em VITA, o francês é mais inovador, mas em PLENA, o português é mais.
Ok, a gente só se dá conta do que é especial na nossa língua quando começamos a olhar de fora, através da comparação com outros idiomas parecidos, e mais ainda com idiomas bem diferentes.
A partir dessa lógica, vou iniciar a série de posts "O patinho belo", que vai mostrar o quão "feia" uma palavra pode ser se botada ao lado das palavras relacionadas em línguas próximas, como francês, italiano, espanhol, e outras... pra que possamos confrontar um pouco essa ideia da palavra errada.
Té mais em tão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário