sábado, 20 de abril de 2013

O patinho belo

Boa noite,

Estou começando com uma série aqui pro blog que vai se chamar "O patinho belo". Quem sabe da história do patinho feio? Pois é, na verdade era um cisne, mas sua beleza só foi reconhecida perto dos semelhantes, outros cisnes.
O exercício que eu quero propor é pegar justo um "patinho belo", ou seja, uma palavra que nós consideramos como normal, correta, natural... e colocar do lado de palavras de mesma origem e signicado pelo menos parecido em línguas próximas, como espanhol, italiano, catalão, francês, e até algumas que pegaram também a palavra como empréstimo (mas nunca devolveram rsrsrs). Você vai se surpreender que nossas palavras podem parecer verdadeiras aberrações se comparadas com suas cunhadas noutros idiomas, exatamente como algumas formas populares da nossa língua são vistas quando comparadas com sua própria versão formal ou escrita. Para isso, vou usar principalmente o Online Etymology Dictionary e o Dicionário Michaelis de Português.

Vamos lá então, já! O patinho belo de hoje é BRANCO. É uma cor que combina com tudo, representa a paz, a cor do próprio cisne... Donde será que veio essa palavra tão suave ao ouvido?

Proto-germânico *blangkaz (brilhar, deslumbrar, ofuscar)
Nórdico Antigo blakkr; Inglês Antigo blanca (cavalo branco)
Alto-alemão Antigo blanc, blanch; Alemão blank (reluzente, brilhante)
Franco blank; Francês Antigo blanc (branco, reluzente)
Inglês blank (vazio, em branco)
Espanhol blanco 

Francês, Catalão blanc 
Italiano bianco
 
Você notou que em quase todas as versões, existe um B seguido de L e não de R?
De fato, várias palavras em português sofreram esse tipo de mudança do L pro R depois de consoante. Em alguns casos, línguas irmãs também acabaram tendo a palavra mudada (exemplos de outros patinhos belos do português: bilro, cravar, cumprir, dobra, frasco, obrigado, prata, prazer, rouxinol, soprar).
Parece estranho, mas as palavras acima podem ter sido consideradas feias em alguma época mais antiga, mas hoje são plenamente aceitas na fala e escrita formal, bem diferente do que acontece com palavras populares como probrema (problema), prasco (plástico), brusa (blusa), frexive (flexível), craro (claro), e outras. Esses são alguns dos patinhos feios que encontramos trilhando em fila pelo Brasil afora.
Em alguns sotaques, é difícil separar L de R, pois um compartilha o som com o outro, e os dois compartilham com U também. É interessante notar que, mesmo nos sotaques mais voltados pro R, o L ainda se preserva na posição inicial de palavra ou sílaba, que são menos afetadas por outros sons (ex.: bolo, goleiro, lápis, lua, orla), mostrando que possivelmente a gente ainda vai ter o som do nosso L por muito tempo, mas vai ser menos comum que hoje. Um ponto que pode contrariar essa evidência é outro patinho belo: lírio, e também uma mudança popular: cerular (celular). Sobre L e R em outras posições, vou deixar pra próxima ninhada.

É isso. Se quiser sugerir mais palavras ou mostrar algum ponto diferente, eu apreciaria sua contribuição. Até mais.

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