quinta-feira, 14 de março de 2013

Palavrachave

Olátodomundo,

Nesses últimos dias eu tive analisando várias palavras do português. Percebi que muitas delas são derivadas não só do latim, mas também do grego, e que, ao olhar num dicionário etimológico, em geral as palavras são originadas de um significado simples, com algum elemento gramatical junto (uma partícula com alguma função na língua original).

Creio que muitos termos complicados e de uso técnico que temos hoje já foram palavras bem simples do dia-a-dia dos gregos (ou ainda são: não conheço a língua grega pra afirmar). O que eu quero dizer por simples é que cada pedacinho da palavra tem um conteúdo ou uma função pra eles, e que nós, quando tomamos emprestada alguma dessas palavras, simplesmente pegamos ela por inteiro, sem saber das partes funcionais que estão vinculadas.

Um exemplo é a palavra "zodíaco". Segundo o Online Etymology Dictionary, ela veio da expressão em grego zodiakos kyklos "ciclo dos animaizinhos", formado por zoion "animal" > zodiaion "animalzinho" > zodiakos "do animalzinho", mais a palavra kyklos "ciclo" (alguns podem ter ficado desapontados com a série Cavaleiros do "do animalzinho"). Agora, compare a relação do final grego -ikos com o nosso pronome "de": mito, mítico (de mito); prática (de praxe "ação, prática"), música (das Musas), pneumático (de vento/sopro), e outros.
Assim, é até possível dizer que quando usamos vocabulário muito técnico ou formal, estamos "falando grego" ou "falando latim", quase escondendo o significado das palavras. Faça o teste: procure saber o que "séptico", essa palavra tão sofisticada e proparoxítona, quer dizer...

Isso tudo tem a ver com o estilo que uma língua adota, ou em termos mais formais (do grego!), sua tipologia. Quanto à formação das palavras e frases (morfologia), uma língua pode ser:
Analítica - Em vez de uma palavra grande, se usa várias palavras curtas separadas, umas representando uma imagem ou ideia, outras especificando o conteúdo ou indicando a função da palavra principal na frase. Em línguas analíticas (também chamadas línguas isolantes), a ordem das palavras na frase é muito importante. Um exemplo é o mandarim. O inglês também está aos poucos se tornando mais analítico, mas a escrita formal costuma não adotar as inovações muito depressa.
Sintética - Informações adicionais sobre o significado primário são coladas na própria palavra, como indicação de gênero, número e caso, ou relação com outra palavra. Nessa categoria, se cada parte tiver uma função única, é chamada língua aglutinante ou aglutinativa, como é o caso do turco, coreano e também do nosso tupi (lembra da cidade Itaquaquecetuba? Quer dizer "ajuntamento de taquaras-faca" ou "lugar onde as facas são feitas de bambu/taquara", pela junção de takûara + kesé "faca" + tyba "ajuntamento").
Se as partes podem ter mais de uma função ao mesmo tempo, a língua é chamada flexiva ou fusional, como é o caso do latim, com todas as declinações em nomes e as conjugações em verbos. Alguns idiomas grudam uma frase inteira numa única palavra: são as línguas polissintéticas, como o groenlandês.
Claro que a grande maioria dos idiomas não são puramente de um tipo ou de outro, e também eles podem mudar ao longo da história. O português está entre as línguas sintéticas, mais pro lado fusional. O grego também.

Quais as vantagens e desvantagens desses tipos?
Vou botar aqui algumas considerações que tenho aprendido:
- As línguas analíticas têm mais palavras, curtas e fáceis de enxergar; as sintéticas têm menos palavras, grandes.
- Nos dois tipos, a fixação da ordem das palavras pode reduzir a quantidade de palavras funcionais.
- No tipo analítico, é exigido mais do raciocínio pra ficar reinterpretando a frase enquanto ela vai sendo formada.
- No tipo sintético, as indicações gramaticais já vão dando uma direção pra linha de pensamento antes da frase terminar.
- Mudanças na pronúncia ao longo do tempo afetam menos as línguas analíticas, mesmo em palavras de função.


Sobre vocabulário, parece haver uma tendência que precisa existir um termo, ou palavra única, pra definir cada coisa. Por isso coloquei o título desse blog junto: palavrachave "consta" aparentemente como um termo novo, que poderia entrar no dicionário ao lado de palavra e de chave. Com o tempo, de tanto usá-la, ela poderia se reduzir a palvachav, depois povachá. Esse aglomero nem é novidade em português (confira no post Vê o meu lado a origem de "freguês").
Por um lado, é bom ter novas palavras curtas que possam ser usadas bastante, mas na maioria das vezes, é só mais um termo pro dicionário ficar mais cheio e pra gente ter que memorizar (uma saída é substituir por uma palavra conhecida: palavrachave > termo). Continuando, em vez de usar "descontroladamente", poderíamos trocar por "sem controle". Em vez de precisarmos aprender a palavra grega "hidrofobia", poderíamos usar simplesmente "medo d'água" e também usar "ele tem medo d'água" em vez de "ele é hidrofóbico". Viu quanta palavra já economizamos?
No tupi, por ter menos palavras únicas pra conceitos diferentes, é comum juntar duas ou mais palavras pra formar uma nova: arasy é uma palavra formada de ara "dia" + sy "mãe, origem". Na nossa língua, não é preciso usar duas palavras, pois já temos "sol", e também não trocaríamos uma palavra simples por duas ou três: "mãe do dia". Ao contrário das palavras gigantes, querer simplificar e separar demais pode ser tão prejudicial quanto juntar palavras.

Até aqui, estou com mais dúvidas que respostas sobre como melhorar o vocabulário pra colocar na minha língua construída, porque não sei direito qual vai ser a consequência de usar mais um tipo ou outro. O que eu sei é que "precisávamos" já está sendo rearranjado como "nós precisava" na língua falada. Caberia ainda falar do "héchitégue" nesse post, mas vou deixar pra próxima.

Enquanto isso, vou textando e testando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário